Na escuta do paciente de
cirurgia plástica.
“Eu não tenho este rosto, eu não tenho estas mãos"
(Cecília Meireles)
Fazendo um link dos versos de Cecília
com minha prática clinica junto à cirurgia plástica, constato ser esta queixa mais frequente
explicitadas das mais diferentes maneiras: a dissintonia entre o que mostra o
espelho e o sentir-se jovem, cheio de energia e de desejo de viver. Assim o
cliente nos chega sintonizado com tudo aquilo que parece ser o seu desejo. Esse
desejo muitas vezes vem envolvido em fantasias e expectativas irreais apontando
para uma direção que não é a mais genuína.
“Freud nos demonstra que nem
tudo é tão visível e tangível como se supõe.” Há algo mais, um desejar não apreendido
para o qual são necessárias outras ferramentas para além do diagnóstico
clínico.
É nesse espaço que o
profissional psicanalista atua, com sua escuta diferenciada do profissional
médico, visando colocar a demanda do cliente em sua dimensão mais aproximada do
seu desejo.
É ainda necessário fazê-lo
engajar-se no processo cirúrgico em todas as suas etapas:
- Questionado suas expectativas e fantasias,
- Desarticulando seus fantasmas, sobretudo àqueles que se referem à anestesia,
- Oferecendo nossa escuta para perceber se é realmente uma cirurgia plástica que ele está desejando,
- Clarificando as etapas do processo cirúrgico para que o paciente elabore com tranquilidade as limitações do pós-operatório,
- Apontando para a co-responsabilidade do médico-paciente, no resultado final do processo.
"Lacan pontua que o dentro e o
fora não sofrem solução de continuidade, antes pelo contrário, são um "continun" infinito",
o que nos leva a certeza de que não se mexe apenas no corpo e de que a
interface entre a cirurgia plástica e a psicanálise se faz profundamente necessária.
Leda Iliovtz Muzy
(Psicóloga Clínica e Psicanalista atuando na Clínica
S. Muzy)